Pelo Jornalista Pedro Burgos.
Vendas de discos de vinil continuam crescendo, graças ao Rock
Por Pedro Burgos | Pedro Burgos – sáb, 13 de dez de 2014
(AM, do Arctic Monkeys, foi o disco mais vendido no Reino Unido.)
Definitivamente não era moda passageira: os discos de vinil registraram mais um ano de aumento expressivo de vendas. Nos EUA, foram quase 8 milhões de unidades comercializadas, e no Reino Unido, o mercado ultrapassou o milhão de bolachões pela primeira vez desde 1996. No Brasil, os números do ano ainda não estão fechados, mas a previsão era de um aumento de 60% – para algo como 90 mil discos. Não é estranho, em plena era do Youtube, Spotify, iTunes e piratões mil?
Pense por outro lado: talvez seja justamente o fato de podermos estar conectados a qualquer música “na nuvem”, o tempo todo, que impulsiona o ressurgimento do vinil. Ter uma trilha sonora em todo lugar é ótimo e conveniente, mas é legal poder tocar a música, ter um lembrete interessante, físico, daquele artista favorito. O vinil de certa forma captura a alma da música em um objeto colecionável como nenhum outro formato fez – definitivamente melhor que o CD. As capas são mil vezes mais bonitas em grande formato, e a pouca praticidade, todo o ritual de levantar a agulha e colocar no sulco certo, faz com que as pessoas curtam mais todo o álbum, e não faixas soltas. Há o argumento técnico, de que o vinil tem uma sonoridade melhor, e ele é bastante debatível. Os discos parecem soar melhor, na verdade, pela forma que costumamos ouví-los – em vitrolas conectadas a caixas-de-som potentes, versus os fones de ouvido vagabundos que a maioria das pessoas usa para ouvir no nosso smartphone.
Com tudo isso em mente, não é surpresa que os artistas que mais estão lucrando com a volta dos discos são do Rock, ou pelo meos indies com um viés roqueiro. Nas lista de mais vendidos, estão Jack White (75 mil unidades nos EUA), Arctic Monkeys, Black Keys e Beck. No Reino Unido, além desses, a reprensagem de discos do Oasis também vão bem. São bandas que vendem também toda a atitude, e que tem fãs que historicamente gastam mais com seus ídolos. As estrelas da música pop, com o que alguns chamariam de música descartável, não traduzem as dezenas de milhões de execuções no Youtube em vendas de vinis. Os discões são do rock e adjacências.
As vendas de vinis, mais caros que CDs e faixas para download, são ótima notícia para os artistas, que ainda não acharam um modo de ganhar um bom dinheiro nessa era onde tudo é encontrável de graça. O problema é que há um limite para essa expansão dos discos: o vinil é uma tecnologia datada, e a produção continua usando métodos de décadas atrás. As máquinas prensam uma quantidade bastante limitada: as melhores, que chegam a custar meio milhão de reais, fazem 125 bolachas por hora e exigem constante supervisão humana. Por isso há menos de 50 fábricas de vinil no mundo, e os planos para expansão são tímidos, mesmo com os números animadores, de acordo com essa reportagem do Wall Street Journal. Ou seja: o vinil vai continuar sendo um produto artesanal, para colecionadores. E talvez essa raridade faça com que os discos sejam justamente ainda mais atraentes. É arte para ouvir e guardar.
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pedro burGOS
Pedro Burgos é jornalista, escreve há 10 anos sobre tecnologia em revistas (como Superinteressante e Galileu), sites (foi editor-chefe do Gizmodo) e até livro – lançou este ano Conecte-se ao que importa - Um manual da vida digital saudável, pela editora LeYa. É agnóstico: usa um iPhone, tem um Xbox One e navega no Chrome.
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